Geossítio 8 Campo de Dobras da Castanheira
Torcer sem quebrar.
As rochas são como livros onde podemos ler diferentes capítulos da história do Planeta Terra. Apesar de muito resistentes quando expostas às forças colossais do planeta, podem comportar-se como se fossem uma barra de plasticina, que ao ser comprimida, dobra e mantem essa forma. Assim aconteceu com as rochas que encontramos no «Campo de Dobras da Castanheira», geossítio de relevância nacional, que conservam as dobras de diferentes amplitudes resultantes das transformações sofridas aquando da formação do supercontinente Pangeia.
O campo de dobras da Castanheira é drenado pela ribeira da Castanheira, afluente do rio Caima. Esta linha de água serve de refúgio para diversas espécies, como as briófitas (dominantemente do género Sphagnum) e plantas vasculares, como o cervum (Nardus stricta). Nas zonas mais rochosas, encontram-se arroz-dos-telhados (Sedum brevifolium) ou o endemismo ibérico açafrão-bravo (Crocus serotinus). As aves de rapina, como o tartaranhão-caçador (Circus pygargus), o peneireiro-vulgar (Falco tinnunculus) ou o esquivo gavião (Accipiter nisus) sobrevoam, altivamente, este local.
Informação Geológica
A área situada a sudeste das «Pedras Parideiras» assume particular interesse pelo facto das rochas aí aflorantes se apresentarem intensamente dobradas. As «dobras» são deformações nas rochas, onde se verifica o encurvamento de superfícies originalmente planas. Na verdade, as rochas deste geossítio formaram-se há mais de 500 milhões de anos nas profundezas de um mar antigo, onde se depositaram horizontalmente camadas alternantes de sedimentos que, por diagénese e metamorfismo, originaram as rochas metamórficas presentes. Os movimentos de compressão, que há cerca de 350 milhões de anos se fizeram sentir, provocaram um aumento de pressão e temperatura, que imprimiram às rochas um comportamento dúctil, tendo estas formado dobras de diferente amplitude. Nesta região, ocorrem ainda inúmeros filões de quartzo, cuja cor clara e alta resistência à meteorização facilita a perceção das dobras.
A importância deste geossítio é acrescida pelo facto de as dobras e foliações presentes nestes materiais evidenciarem uma atuação orogénica polifásica. A última geração de dobras foi atribuída à terceira fase de deformação Varisca, embora num dos afloramentos se observe uma dobra atribuída à segunda fase. As dobras que marcam a terceira fase da orogenia têm um plano axial NW-SE com elevadas inclinações, geralmente superiores a 65 graus para SW e NE. O eixo das dobras inclina entre 10 e 20 graus, sistematicamente para SE.